Fundo de Investimento: a nossa análise

Preocupada com a viabilidade e o potencial do fundo de investimentos anunciado recentemente pelo Fluminense, a Associação Nacional Tricolor de Coração houve por bem consultar dois dos maiores especialistas do mercado financeiro sobre o tema para que emitissem opinião avalizada e profissional a respeito. A ANTC prega a profissionalização da gestão e não poderia agir diferente ao avaliar assunto tão relevante.

 

Segue na íntegra, o memorando elaborado pelos especialistas Paulo Henrique Todaro e Paulo Veiga:

Não é imediato o entendimento do que vem a ser o tal “fundo de investimento ultraconservador” anunciado como instrumento de apoio financeiro ao Fluminense. A notícia sobre o tal fundo de investimento não diz muita coisa, mas deixa a impressão que esta iniciativa, apesar de fazer alguma fumaça publicitária, deixará pouco dinheiro nos cofres do clube.

Um fundo de investimentos ultraconservador, como noticiado, deve ter uma carteira de investimentos composta por títulos públicos federais que ofereçam baixíssimo risco ao aplicador. E como é que o Fluminense poderia se beneficiar das aplicações que torcedores fizessem em um instrumento que lhes paga taxas de juros correntes no mercado? A solução é repassar ao Fluminense parte do que o Administrador (Brasil Plural, neste caso) recebe pelos serviços prestados ao tal fundo de investimento.

Ocorre que um fundo assim constituído deverá cobrar taxas de administração muito baixas. Afinal de contas, em um ambiente de juros baixos, os custos incorridos pelo fundo (com gestor, administrador, custodiante etc) precisam ser comprimidos de forma a não afetar drasticamente o retorno dos seus investidores. Como o Fluminense não pode ser parte da estrutura de custos legais do Fundo, o Administrador faria o repasse depois de deduzida a parcela referente ao Imposto de Renda, o que reduz ainda mais o percentual que pode ser repassado ao Clube.

Em uma conta simples, um fundo do Fluminense que consiga levantar uma quantia surpreendentemente alta (R$ 1 bilhão) e entregue ao clube 0.20% ao ano (um percentual compatível com uma taxa de administração total de 0.50%), renderia R$ 166 mil por mês ao Fluminense. Estas contas representam uma estrutura de custos típica do mercado de capitais. Claro que a taxa de administração pode ser mais elevada de modo a aumentar o repasse. Este percentual a mais para o clube representaria um aumento no custo do fundo e reduziria ainda mais o rendimento dos investidores. Em outras palavras, o investidor-torcedor abre mão de parte do rendimento sobre seus investimentos para ajudar o clube do seu coração.

Sem dúvida, todo o reforço de caixa é bem-vindo, mormente quando se está com 2 a 3 meses de folha em atraso. No entanto, não parece uma solução muito atraente para o investidor-torcedor (que tem outras formas de ajudar financeiramente o seu clube) nem para o clube (que precisaria de um grande esforço de marketing para divulgar um produto com margens tão baixas).

O lado bom é que este pode ser um recurso recorrente, isto é, mantidas as aplicações dos torcedores, a receita se repete a cada ano. O lado complicado é que tem que ser combinado com os torcedores. O resultado alcançado pelo programa sócio-torcedor não anima muito a pensar em grandes cifras para este projeto.

Melhor seria se desenvolver uma ação mais eficaz na captação de patrocínios a ficar na torcida de sucesso de um projeto cercado de ineditismo.

Paulo Henrique Todaro é sócio do Fluminense Football Club formado em finanças e estratégia pela universidade de Oxford com mestrado em Change Management pela HEC Paris. É sócio fundador da Albion capital e possui 25 anos de experiência em investimentos, tendo sido sócio e diretor da Mercatto Investimentos e executivo sênior dos bancos Icattu e Indusval.

Paulo Veiga é sócio do Fluminense Football Club, engenheiro formado pelo IME, mestre em Administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Possui mais de 30 anos de experiência profissional no mercado de capitais como analista, consultor e gestor de investimentos.

CURTAS DA ANTC:

– Presidente Pedro Abad, com uma folha salarial de 4,5 milhões, incluídos os encargos, não há como termos um time competitivo. Seremos meio de tabela até quando?

– Atingir receitas de 330 milhões para só assim tornar o clube viável….só faltou explicar como. Powerpoint aceita tudo. Nossa receita atual é de 185 milhões.

– 40 milhões de dívidas trabalhistas já estão fora do ato…..que perigo

–  Todo esse alarde de fundo para captação de 1 milhão de reais por ano?