O Fluminense Football Club, um dos clubes mais tradicionais do Brasil, mantinha essa “tradicional” característica em uma de suas salas que era reconhecida como Biblioteca Coelho Netto.

Sentar à mesa de jacarandá, tomar um café e ler o jornal do dia, foi rotina diária para quem esteve acostumado a adentrar e usufruir das dependências do clube, podendo optar por ler livros fantásticos que só o Fluminense oferecia.
Gloriosas tardes de leitura foram usufruídas por renomados tricolores que frequentavam esta antiga e peculiar biblioteca.
Muitos tricolores que puderam apreciar preciosas épocas em Laranjeiras desfrutaram de harmoniosas tardes de descanso, boas leituras e trocas de conversas amistosas. Ao gosto do freguês, podia-se escolher dentre obras raras e de valor inestimável como a coleção de Voltaire, Flaubert, Honoré de Balzac, Émile Zola, História Natural de Buffon, Molière, dentre outras obras primas.
Foi em 2011, na gestão do Ex-Presidente Peter Siemsen, que reformas foram iniciadas nas salas de leitura e de troféus. Na época, a biblioteca Coelho Netto servia como antessala à sala de troféus. Após a reforma, o espaço hoje se tornou uma “arquitetura de linha virtual do tempo e história do clube”, aberta para torcedores de fora poderem visitar o clube. Vale registrar que foi uma reforma que esteticamente trouxe benefícios, mas que, por outro lado, não soube aproveitar e zelar por obras literárias e artigos que representam títulos importantes para o Fluminense. Após a citada reforma não é mais possível reconhecer onde eram as duas salas antigas, pois se tornou uma mesma estrutura física que hoje se denomina em conjunto como museu / sala de troféus.
E para onde foi tamanho acervo ? Em matéria publicada no dia 15/09/2011, o Globo Esporte noticiou que boa parte dos livros seria exposta na sede do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e que o restante ficaria na área de leitura da própria sala de troféus das Laranjeiras: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2011/09/ja-em-obras-nova-sala-de-trofeus-do-flu-deve-ficar-pronta-em-novembro.html
No entanto, não se tem registros sobre se isso realmente aconteceu em algum momento… Fato é que, enfim, chegamos em 2017 sem saber o destino certo de toda a biblioteca, quadros de artistas renomados, esculturas, móveis de valor histórico e troféus de diversas modalidades, os quais não conseguiram ser expostos na atual sala. Mesmo que por motivo de falta de espaço, a importância de um esclarecimento sobre o destino desses itens é imprescindível aos antigos e novos torcedores e sócios, tendo em vista que, além de ser PATRIMÔNIO do clube, é parte também de sua memória e tem todos os critérios para que se pudesse ser conferido o interesse social apropriado.
Conforme a Lei nº8.159/1991 (que trata da política nacional de arquivos públicos e privados) estabelece em seu artigo 11, “são considerados arquivos privados os conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em decorrência de suas atividades”. E ainda, segundo a lei: “os arquivos privados podem ser identificados pelo Poder Público como de interesse público e social, desde que sejam considerados como conjunto de fontes relevantes para a história e desenvolvimento científico nacional”.
Já que o clube é tombado pelo poder estatal, bem como diante de toda a história que o clube representa, o arquivo permanente dos artigos que o guarnecem é de interesse social e, por isso, não podem ser alienados nem sofrerem dispersão ou perda da unidade documental.
Os arquivos permanentes são definidos assim porque devem ser definitivos e que, portanto, não podem ser eliminados jamais. São documentos que devem ser preservados por conter um valor histórico-cultural, embora alguns isoladamente não mais possuam um valor primário. Revelam, inclusive, a origem, a constituição e a evolução da instituição, normas e regulamentos que se caracterizam como históricos.
O arquivo é apropriado para a frequência de pesquisadores e para o público em geral, sem restrições, sendo dever do Fluminense (através do Flu-Memória) a sua classificação, conservação e a descrição dos documentos. Claro… Se ainda for possível o seu “resgate” !!!
Fazem parte do acervo, como já dito, documentos do clube, artigos, obras raras, únicas, valiosas e de alto valor financeiro, os quais foram em grande parte objeto de DOAÇÃO (muitas delas com vedação específica a que o clube alienasse ou repassasse tais obras) feita anteriormente ao Fluminense. Sendo assim, esperamos que haja TRANSPARÊNCIA sobre o seu destino, e que nenhuma das obras tenha ido parar “por engano” na casa de alguém ou em coleções / bibliotecas particulares não autorizadas. O assunto é sério e merece resposta da diretoria, assim como eventual apuração de responsabilidades e punições. É o mínimo de respeito que se espera em relação ao patrimônio e à história do gigante Fluminense Football Club.