Mais um minuto de silêncio. 

O Fluminense Football Club, um dos clubes mais tradicionais do Brasil, mantinha essa “tradicional” característica em uma de suas salas que era reconhecida como Biblioteca Coelho Netto. 

Obras sendo encaixotadas na antiga biblioteca Coelho Netto (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)

Sentar à mesa de jacarandá, tomar um café e ler o jornal do dia, foi rotina diária para quem esteve acostumado a adentrar e usufruir das dependências do clube, podendo optar por ler livros fantásticos que só o Fluminense oferecia. 

Gloriosas tardes de leitura foram usufruídas por renomados tricolores que frequentavam esta antiga e peculiar biblioteca. 

Muitos tricolores que puderam apreciar preciosas épocas em Laranjeiras desfrutaram de harmoniosas tardes de descanso, boas leituras e trocas de conversas amistosas. Ao gosto do freguês, podia-se escolher dentre obras raras e de valor inestimável como a coleção de Voltaire, Flaubert, Honoré de Balzac, Émile Zola, História Natural de Buffon, Molière, dentre outras obras primas. 

Foi em 2011, na gestão do Ex-Presidente Peter Siemsen, que reformas foram iniciadas nas salas de leitura e de troféus. Na época, a biblioteca Coelho Netto servia como antessala à sala de troféus. Após a reforma, o espaço hoje se tornou uma “arquitetura de linha virtual do tempo e história do clube”, aberta para torcedores de fora poderem visitar o clube. Vale registrar que foi uma reforma que esteticamente trouxe benefícios, mas que, por outro lado, não soube aproveitar e zelar por obras literárias e artigos que representam títulos importantes para o Fluminense. Após a citada reforma não é mais possível reconhecer onde eram as duas salas antigas, pois se tornou uma mesma estrutura física que hoje se denomina em conjunto como museu / sala de troféus.

E para onde foi tamanho acervo ? Em matéria publicada no dia 15/09/2011, o Globo Esporte noticiou que boa parte dos livros seria exposta na sede do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e que o restante ficaria na área de leitura da própria sala de troféus das Laranjeiras: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2011/09/ja-em-obras-nova-sala-de-trofeus-do-flu-deve-ficar-pronta-em-novembro.html

No entanto, não se tem registros sobre se isso realmente aconteceu em algum momento… Fato é que, enfim, chegamos em 2017 sem saber o destino certo de toda a biblioteca, quadros de artistas renomados, esculturas, móveis de valor histórico e troféus de diversas modalidades, os quais não conseguiram ser expostos na atual sala. Mesmo que por motivo de falta de espaço, a importância de um esclarecimento sobre o destino desses itens é imprescindível aos antigos e novos torcedores e sócios, tendo em vista que, além de ser PATRIMÔNIO do clube, é parte também de sua memória e tem todos os critérios para que se pudesse ser conferido o interesse social apropriado. 

Conforme a Lei nº8.159/1991 (que trata da política nacional de arquivos públicos e privados) estabelece em seu artigo 11, “são considerados arquivos privados os conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em decorrência de suas atividades”. E ainda, segundo a lei: “os arquivos privados podem ser identificados pelo Poder Público como de interesse público e social, desde que sejam considerados como conjunto de fontes relevantes para a história e desenvolvimento científico nacional”.

Já que o clube é tombado pelo poder estatal, bem como diante de toda a história que o clube representa, o arquivo permanente dos artigos que o guarnecem é de interesse social e, por isso, não podem ser alienados nem sofrerem dispersão ou perda da unidade documental.   

Os arquivos permanentes são definidos assim porque devem ser definitivos e que, portanto, não podem ser eliminados jamais. São documentos que devem ser preservados por conter um valor histórico-cultural, embora alguns isoladamente não mais possuam um valor primário. Revelam, inclusive, a origem, a constituição e a evolução da instituição, normas e regulamentos que se caracterizam como históricos. 

O arquivo é apropriado para a frequência de pesquisadores e para o público em geral, sem restrições, sendo dever do Fluminense (através do Flu-Memória) a sua classificação, conservação e a descrição dos documentos. Claro… Se ainda for possível o seu “resgate” !!!    

Fazem parte do acervo, como já dito, documentos do clube, artigos, obras raras, únicas, valiosas e de alto valor financeiro, os quais foram em grande parte objeto de DOAÇÃO (muitas delas com vedação específica a que o clube alienasse ou repassasse tais obras) feita anteriormente ao Fluminense. Sendo assim, esperamos que haja TRANSPARÊNCIA sobre o seu destino, e que nenhuma das obras tenha ido parar “por engano” na casa de alguém ou em coleções / bibliotecas particulares não autorizadas. O assunto é sério e merece resposta da diretoria, assim como eventual apuração de responsabilidades e punições. É o mínimo de respeito que se espera em relação ao patrimônio e à história do gigante Fluminense Football Club.