O maior patrimônio de um clube é o torcedor.

O torcedor é o personagem mais importante no mundo do futebol. Mais do que os clubes, mais do que os craques, mais do que os estádios. Toda a fortuna gerada pelo futebol existe graças à existência do torcedor. É por sua causa que existem as transmissões televisivas e de rádio, as coberturas jornalísticas, os canais específicos e é por causa dele que milhões são pagos aos clubes por direito de transmissão. Também é por causa do torcedor que existem os patrocínios bilionários no futebol.

Essa importância não é proporcional ao que os clubes oferecem nos seus planos de Sócio Torcedor. Um torcedor gasta com pay-per-view, camisas oficiais, bandeiras, adesivos, produtos personalizados – alguns de qualidade duvidosa – simplesmente por ser apaixonado pelo seu clube. Essa paixão potencializa o consumo e o consumo gera mais receitas para os clubes.

Houve uma época que ir ao estádio apoiar o seu clube era quase que uma obrigação. Maracanã com um público superior a 100.000 torcedores era comum nos clássicos. Atualmente para ver um estádio lotado com 30.000 torcedores é uma vitória. No Rio de Janeiro, os processos de concessão sucatearam a relação dos clubes com o gigante Maracanã, que foi retirado do povão e entregue a uma elite burocrata que pensa mais no lucro imediato do que no espetáculo, criando uma situação extremamente complexa: se um clube quer jogar no Maracanã terá que aceitar as condições da empresa gestora e fatalmente terá prejuízo e com isso os clubes se afastam do estádio. Mas a empresa gestora sem os espetáculos terá prejuízo. Não é uma queda de braço, pois a empresa gestora é sempre a parte mais forte nessa negociação. Seria como se as empresas de aluguel de palco e luz cobrassem mais caro para um show musical do que a banda principal.

O poder da torcida, em conjunto com o poder da televisão e o poder dos jogadores, capitaliza o valor mercado do clube. O maior recurso natural do futebol é o relacionamento profundo e duradouro que os clubes de futebol têm com seus fãs. O  futebol não é um mercado comum, pois não tem relação alguma com satisfação de um produto, pelo contrário. É uma relação emocional onde muitas vezes é explorada comercialmente, sendo necessário  relativo  cuidado nesse quesito. Os torcedores não mudam. Podem até mudar de cidade e esposa ou marido, mas de time não. O negócio futebol não se parece com os negócios tradicionais. O relacionamento torcedor-clube, e o seu valor, quando avaliado economicamente – sua capacidade de geração de receitas, está na força e distribuição de seus torcedores, os seus principais clientes.

Mas quem é esse torcedor? O que o leva a ir ao estádio? Por que ele não vai? O que o faz ficar no sofá de casa ou na cadeira de um bar com os amigos?

Segundo dados da MARPLAN na pesquisa “Dossiê Esporte, Um estudo sobre o esporte na vida do brasileiro” a identificação com o futebol é o principal motivo para acompanhar pessoalmente os jogos. Os amigos são considerados a companhia mais adequada, mas culturalmente existe uma tradição de o pai passar o hábito para o filho. Muitos dos entrevistados afirmam que têm receio de assistir ao futebol em estádios, devido à violência e falta de segurança. 13% dos brasileiros mantêm inalterada a freqüência a estádios de futebol, enquanto 11% diminuíram e 2% têm ido até mais (dos 11% que diminuíram, 7% culpam a violência e a insegurança dentro e fora dos estádios). E 54% dos brasileiros não frequentam estádios. Mas se 11% diminuíram a sua ida e apenas 7% não vai por causa da violência, para onde foram os torcedores?

O torcedor padrão, embora não precise ser convencido a gostar da marca, precisa ser incentivado a consumi-la e, nesse aspecto, está completamente abandonado, segundo o especialista em marketing esportivo e dono do site Máquina do Esporte, Erich Beting. “A mídia é a que mais reforça que o torcedor precisa ser fanático, mas há uma gama gigantesca, muito maior que a porcentagem de fanáticos, que gostam de futebol, mas não são tarados”, diz. Esses não vão a todos os jogos. Selecionam.

Preferem quando o time está brigando por títulos, as finais, os clássicos. Portanto, cabe ao clube criar interesse nas partidas cotidianas, transformar a quinta rodada do Campeonato Carioca em algo atrativo (ninguém disse que seria fácil). Não pode é viver apenas da bilheteria dos grandes confrontos.

Durante o Mundial no Brasil, poucos entendiam o por que da fila para tirar uma foto com uma garrafa de Coca-Cola na mão. Essa e todas as outras ações dos patrocinadores oficiais da Copa do Mundo, algumas tão bobas e simples quanto a do refrigerante, fazem parte da experiência de assistir a uma partida do torneio mais importante do mundo.

E por que os clubes brasileiros não fazem o mesmo? Os grandes estádios do mundial continuam aí. Por que no Brasil não existem lojas móveis e stands dos patrocinadores? Quatro dias apenas depois da final do Maracanã, o Corinthians recebeu o Internacional no Itaquerão e a área reservada aos parceiros da Fifa estava vazia. O Mundial se foi e ninguém aprendeu a lição. No Mundial, três horas antes de começar o jogo estavam lotados o stand da Budweiser, da Coca, do Itaú. Um clube minimamente preparado descobriria que pode vender o espaço para as marcas. Mas não com amadores.

A verdade é que o jogo no estádio tem que ser mais confortável, atrativo e agradável do que assistir no conforto do sofá ou na mesa de um bar com os amigos. Enquanto tentarem reinventar a roda e redescobrir a pólvora, os estádios continuarão vazios na maioria dos jogos, os clubes continuarão no prejuízo e o torcedor distante dos estádios.

Em meio a todo o entretenimento dos dias modernos, violência nas ruas do Rio de Janeiro, crise financeira o que faz com que o torcedor saia de casa para ir ao estádio?

Antes de qualquer coisa o torcedor precisa ter o hábito de frequentar um estádio de futebol, precisa total conhecimento do “seu ambiente”, saber onde estacionar sem problemas, saber qual transporte público acessar, saber o nome do ambulante que lhe venda a cerveja, e nem precisa marcar com os amigos porque já sabe que, ao chegar, todos estarão lá. Isso é o hábito…isso hoje nos falta.

Antes não tínhamos o Maracanã, jogávamos vagando pelo Brasil. Hoje com o Maracanã pensamos nos custos, sem pensar no único motivo de sua existência: a sua torcida.

Temos um clube cada vez mais distante de seu torcedor, sem uma comunicação digna, sem um plano de sócio futebol digno e com muita vontade de culpar a sua razão de existir pelo fracasso de bilheteria.

O Fluminense não é clube para jogar em estádios como Edson Passos, o Fluminense é gigante. A Associação Nacional Tricolor de Coração não compactua com esse processo de apequenamento. Precisamos pensar grande, precisamos pensar em títulos, em vitórias, e não apenas em ser um clube vendedor.

Não aceitamos a posição pacata da diretoria de dizer que jogar no Maracanã dá prejuízo e a única saída é jogar em Edson Passos. Quais ações foram realizadas para engajamento do torcedor? O que tem sido feito para reverter esse quadro? Nenhuma, nada.

Qual torcedor vai ao estádio para ficar 2 horas na fila para trocar o ingresso comprado pela internet? Por que não trabalhar melhor com o preço do ingresso? O custo fixo já será pago, então vamos precificar melhor. Por que não exigir o que nos dá direito o contrato do Maracanã? Por que não melhorar o acesso à entrada do estádio? Por que não realizar ações com os torcedores? Agora não há nem mais o “chute do meio de campo”. Por que não realizar combos de ingressos?

A maneira mais fácil é não fazer, e isso é inadmissível.

Nossa casa, atualmente, é o Maracanã. Não há qualquer dúvida em relação a isso.